A poesia é essencial à vida. O acesso a ela é um direito de toda criança e todo jovem, já dizia Mário Quintana. Em “Emergência”, ele diz: Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo para que possas, enfim, profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado.
Posso dizer: quem lê um poema para seus alunos, para seu(s) filho(s), para seu(s) amigo(s), abre uma janela e possibilita um encontro mais íntimo com a poesia. Ouçamos mais um poema, ainda de Mário Quintana.
Chama-se “Bilhete”: Se tu me amas, ama-me baixinho. Não o grites de cima dos telhados. Deixa em paz os passarinhos. Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
Poucas pessoas ficam indiferentes diante desse poema que recusa a estandardização. Quem não desejaria ouvir isto sussurrado ao seu ouvido? Poemas assim tendem a calar fundo a alma de leitores sensíveis.
Leminski tem momentos líricos surpreendentes, sempre marcados por forte tensão – nada parece pacificado como nestes versos: o amor, esse sufoco / agora há pouco era muito / agora, apenas um sopro / ah, troço de louco / corações trocando rosas, e socos.
Em Leminski, vê-se a constatação de que o amor também muda, de que o amor é contraditório – “corações trocando rosas e socos”.
Acredito, portanto, na possibilidade de introduzir a poesia na vida, sobretudo chamando atenção para o que Oswald de Andrade falou no início do século: a poesia está nos fatos.
Trata-se de buscar uma prática que se define por oferecer textos que possibilitem uma convivência mais sensível com o outro, consigo mesmo, com os fatos do cotidiano, com a vida, enfim.
Em dez anos de convivência com jovens, posso afirmar que é possível um trabalho sensibilizador com a poesia.
Acredito que os poetas nos ensinam a sentir melhor o mundo, a dar atenção às coisas que não têm importância nenhuma (Quintana nos lembra isto em vários poemas, sobretudo em “Ah, sim, a velha poesia”) e mesmo a descobrir naquilo a que damos valor algo inesperado.