Já deu pra ver que não sou boa de previsões. Pensar que só a chuva poderia atrapalhar o espetáculo carnavalesco carioca… São tantas informações que dividirei esse espaço dois lados: o bom e o outro. Como sempre e mais que nunca, lembro que sou uma só e não onipresente. Só posso relatar o que vi.
O lado bom
Vi o rio da Portela levar o campeonato, merecidamente depois de 33 anos, com o enredo “Quem nunca sentiu seu corpo arrepiar ao ver esse rio passar”. É a quarta vitória do carnavalesco Paulo Barros. Foi emocionante.
Quase que a mágica das arábias de Padre Miguel com “As mil e Uma Noites de uma Mocidade pra lá de Marrakesh” surpreende e “rouba” o título. A decisão veio nas notas do último quesito, enredo. Um gostinho especial o carnavalesco Alexandre Louzada levará novamente.
A imagem do carnaval 2017 é a do Aladim sobrevoando o Sambódromo no tapete voador. O público foi ao delírio.
Aliás, a festa em Madureira foi dupla. O Império Serrano, campeão do grupo de Acesso, garantiu sua vaga no Especial em 2018.
A verde e branca da Serrinha soube explorar as pequenas delicadezas do enredo “ Meu quintal é maior que o mundo”, sobre o poeta pantaneiro Manoel de Barros. Neguinho, por uma janela, espiava todo o imaginário de seu universo poético passeando pela Sapucaí. Chorei.
Se o enredo sobre Xingu não deu o resultado esperado pela Imperatriz Leopoldinense, a comissão de frente, por exemplo (que achei maravilhosa), não teve boas notas, tribos povoaram a Beija-flor e, imponentes, índios guardavam a coroa imperiana no abre-alas.
Vi o Salgueiro na terceira posição após sua presidente, Regina Célia, avisar que sua escola não entraria se não houvesse uma limpeza no piso. A Vila Isabel perdeu o tom do “Som da Cor”, teve problemas e derramou óleo na pista.
Ah, “A Divina Comédia do Carnaval”, em que uma mulher tem coragem para peitar o regulamento. Isso não aconteceu nem quando a Paraíso do Tuiuti e a Unidos Tijuca socorriam as vítimas dos lamentáveis acidentes ocorridos diante do público do Setor 1, na armação.
Vi a reação do povo da Mangueira, quarta colocada graças a travada do carro de São João, o da cantora Alcione. Fez um buraco que nem com a ajuda do santo (que, afinal, costuma ser justo) poderia deixar de ser “canetado” nos quesitos evolução e harmonia. Torcendo no Palácio do Samba a comunidade aplaudiu, ao final da apuração, o campeonato da coirmã de Madureira.
Mais uma vez, fotografei a empolgante passagem da verde e rosa e, especialmente, a bateria. Um privilégio carinhoso proporcionado pelos Meninos da Mangueira!
Vi Ivete na Grande Rio passar duas vezes, igualzinho Fafá de Belém, em 2013, no enredo sobre o Círio de Nazaré. Foi também na comissão de frente, onde ela atuou, que a escola de Caxias perdeu alguns preciosos décimos.
A bateria foi penalizada, a velocidade do samba pipoca acabou provocando a perda de outros décimos. Ficou em quinto.
A Beija-Flor foi a sexta colocada e abrirá o desfile das Campeãs. A escola de Nilópolis tentou inovar criando tribos misturadas em vez de alas definidas entre os setores.
A novidade não agradou aos jurados que pegaram pesado inclusive no quesito enredo, baseado em Iracema, clássico de José de Alencar!
O outro lado
Não, não havia nas dependências do sambódromo os mesmos cuidados de finalização de anos anteriores.
Caí no vão entre a porta e a escada mal ajustada da sala de imprensa; desdobrei a atenção com cabos estendidos no corredor para a torre de transmissão (sem a proteção nos dois primeiros dias, os do grupo de Acesso); a pintura da pista não havia secado até o início das apresentações do Grupo Especial…
Abrindo o desfile no domingo, a Paraíso do Tuiutí protagonizou o primeiro desastre. O último carro alegórico bateu nos dois lados da armação, atropelando quem trabalhava no local!
Apesar da gravidade, a ordem foi não interromper o espetáculo.
Quem crê que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, reveja seus conceitos.
Na mesma Armação despencou, com mais gente ferida, a parte superior de outro carro alegórico. O de News Orleans, da Unidos da Tijuca, na segunda-feira.
Novamente, apesar da seriedade do acidente, foi ordenado que o desfile continuasse. A expressão dos torcedores no Setor 1 dava noção da perplexidade do público. Imaginem o clima dos componentes da escola do Borel.
Outros episódios lamentáveis para a credibilidade do Desfile do Grupo Especial comprometeram o evento. Apesar da justiça no topo das classificadas, o julgamento está definitivamente em cheque.
As notas da União da Ilha, São Clemente e Imperatriz Leopoldinense não corresponderam ao que foi apresentado. Para coroar os equívocos, representantes das agremiações decidiram que não haverá rebaixamento.
Surpreendentemente a Unidos da Tijuca ainda conseguiu notas mais altas que a Paraíso do Tuiuti! Última colocada acabou, por tabela, sendo beneficiada pela “anistia”.
A inabilidade do prefeito Marcelo Crivella expôs sua falta de jogo de cintura para transformar limão em limonada. Perdeu a chance, ao recusar a missão de entregar as chaves da Cidade Maravilhosa para o Rei Momo, de anunciar que abdicaria do privilégio para, simbolicamente, passá-lo à uma legítima herdeira do povo do samba, a neta de Cartola, mulher e negra!
Nilcemar Nogueira é Secretária Municipal de Cultura e acabou fazendo papel sem as honras que merecia, após o alcaide fazer forfait e não comparecer no(s) horário(s) marcado(s) para a cerimônia tão simbólica para os cariocas.
Para o bom entendedor…
Não dá para terminar essa narrativa carnavalesca, assim, pra baixo. Ficou para o final as palavras de Luis Carlos Magalhães.
Ele entrou para a história do carnaval ao assumir a direção da Portela depois do assassinato de Marcos Falcon.
Como a águia, planando sobre as adversidades, a levou ao tão sonhado campeonato:
“A vitória não é só da Portela é de todas as escolas…
Mais importante que a vitória da Portela é levantar a bandeira do samba, da cultura brasileira!”
Abre alas: Águia da Portela, no contra luz linda!
Legenda – Não precisa, a chamada faz o papel…
Portela: Ala rio com canoa
O rio portelense concebido por Paulo Barros conduz seus principais personagens pela história.
Mocidade: Aladim tapete arquibancada torre
Aladim rouba a cena passeando em seu tapete mágico pelo céu do Sambódromo.
Mocidade: Ala das Baianas carro
As tradicionais baianas da Mocidade, lideradas por tia Nilda.
Salgueiro: Rainha de Bateria, Viviane Araújo / Regina Célia
Na Divina Comédia do Carnaval, Viviane Araújo reina na bateria.
Mangueira: Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira: Débora de Almeida / Renan Oliveira
Nossa Senhora Aparecida e seu pescador, representados na Mangueira pelo casal, a porta-bandeira Débora de Almeida e o mestre-sala Renan Oliveira.
Império Serrano: Império Abre alas coroa
A coroa, símbolo do Império Serrano, guardada pelos índios do Pantanal de Manoel de Barros.
Unidos da Tijuca: Setor 1 grade arquibancada
Perplexidade no setor 1, resgate dos acidentados no carro da Unidos da Tijuca.