Opinião

Tributo a Galdino Pataxó Ha-Hã-Hãe

O ‘Roda Viva’ do dia 13 de fevereiro entrevistou o psicanalista, escritor e dramaturgo Contardo Calligaris. No jornal, está semanalmente na Ilustrada; na televisão, com Thiago Dottori, assina o roteiro da série ‘Psi’, no canal HBO.

No programa, externou, entre tantas, sua opinião sobre o fortalecimento do nacionalismo: “a subjetividade coletiva, em geral, é um negócio que me dá uma tremenda ojeriza. Por quê? Porque é nesses lugares que o sujeito coletivo é capaz de qualquer porcaria. Nenhum daqueles 4-5 jovens, não me lembro quantos eram, que queimaram o índio Galdino, em Brasília, não me lembro em que ano, nenhum deles sozinho teria pego uma garrafa de gasolina e coberto aquele índio e tocado fogo nele. Mas, sendo 4 ou 5, aí rola”.

Calligaris exemplificou “subjetividade coletiva” com o caso de Galdino Jesus dos Santos, da etnia Pataxó Hã-hã-hãe. Em 1997, foi vítima da extrema crueldade de cinco jovens que atearam fogo em seu corpo, enquanto dormia, em uma parada de ônibus em Brasília. De passagem pela capital federal para participar das comemorações do Dia do Índio e de debates com autoridades públicas sobre a situação da Terra Indígena Caramuru/Paraguassu, não resistiu aos ferimentos e morreu ao dar entrada no hospital. Os criminosos alegaram desconhecer a identidade indígena do homem, confundindo-o com um mendigo, como se isso justificasse a barbárie. Para o psicanalista, os jovens não teriam cometido o crime se estivessem sozinhos, assim como outros atos ilícitos que são praticados coletivamente.

Lugar de memória e esquecimento, a praça John Kennedy deu lugar a Compromisso que, por sua vez, deu lugar a Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos. Perto de completar vinte anos do assassinato de Galdino Pataxó, em Brasília, na praça que recebeu seu nome, esculturas revelam o sentimento de uma pessoa que atua profissionalmente na limpeza da praça e arredores: “É um inocente. O monumento dele é em vão. É como se fosse uma folha seca. Entendeu? Como a folha seca, que cai e acabou. Não existe mais. É uma vida que foi e não volta”.

 

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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