A partir desta semana, Terra Brasilis, em série mensal, conta a saga de um “carioca da gema” que deixou o Rio de Janeiro, ainda Guanabara, para viver entre os indígenas em Mato Grosso. Nosso personagem, em 1977 e 1978, cursou Engenharia Elétrica na Pontifícia Universidade Católica de Petrópolis e, de volta ao Rio, até meados de 1979, Engenharia Operacional Elétrica na Universidade Santa Úrsula. Mas a escolha da carreira e os ambientes universitários, vigiados pela ditadura militar, não foram convincentes para torná-lo um engenheiro.
Certo dia, uma matéria do jornal ‘O Globo’ mudou o curso da história de Jacutinga, cognome de nosso personagem, um pássaro da Mata Atlântica, hoje com uma população drasticamente reduzida em decorrência da caça e da destruição de seu habitat. Das Laranjeiras – próxima à Praça São Salvador, hoje um celeiro cultural – a Copacabana, seguiu junto aos amigos Joca e Fernandinho. Passou na banca do Beco da Fome, na Prado Júnior, próxima a um cinema que oferecia sessão à meia-noite. Com destino à praia de Copacabana, Posto 2, seguiram os três rapazes.
Na areia, de frente ao mar, Jacutinga, diante de tantas notícias, deteve-se ao chamado da Fundação Nacional do Índio para interessados em prestar concurso para a carreira de Indigenista. Como o nevoeiro que invade a cidade serrana, fog, e a preamar, ambos a mudar rapidamente a paisagem do dia, nosso pássaro decidiu, sob o sol escaldante, prestar o exame. Fernandinho mostrou-se interessado e comprou um exemplar do jornal que, por incrível que pareça, não trouxe a notícia. Intrigados, vasculharam página por página até descobrirem que Jacutinga havia comprado um exemplar de assinantes, diferente do exemplar de Fernandinho, exclusivo para bancas de jornal.
O mistério que envolveu os dois exemplares existe até hoje: por que um exemplar de assinantes estaria em uma banca de jornal? Por que apenas no exemplar de assinantes foi publicada a matéria da Fundação Nacional do Índio? Joca permaneceu no Rio, Fernandinho foi para New York e Jacutinga, para o Planalto Central.