Foto Ahmad Jarrah
Para ocupar o tempo, as pessoas utilizam diversos hobbys: Uns gostam de tocar violão, outros de esportes radicais, fotografia e há também aqueles que gostam de criar pássaros. Apesar de pouco conhecido, só em Mato Grosso existem 3.200 criadores, registrados no cadastro técnico federal do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).
Esta é uma atividade que congrega pessoas de diversos segmentos e perfis, sendo possível encontrar desde um empresário, engenheiro, juiz ao pescador.
As preferidas pelos criadores mato-grossenses são as ‘canoras’, que possuem a capacidade de cantar, assoviar ou gorjear. No total, são cerca de 40 mil animais, sendo que 50% são da espécie Curió, 40% de Bicudos e 10% de outras espécies, onde predominam o Trinca-Ferro, Coleiro e Canário da Terra.
Para os criadores é um hobby agrada a alma, pois o canto dos pássaros é tido como uma linda melodia. Assim define o criador Cesar Martins, de 43 anos, e que há 13 cria passarinhos e trabalha como pescador profissional. Martins possui 92 aves, sendo de duas espécies, Bicudo e Trinca-Ferro. O canto é tão encantador que existem até torneios, onde eles competem para ver quem canta mais.
Dos animais que possui, Martins explica que 90% nasceram em cativeiro, o que impossibilitariam elas de terem uma vida normal na natureza, sem chance de sobreviver. Ainda de acordo com Cesar, o objetivo no momento é melhorar a genética das aves cantadoras. O cantor mais ativo, segundo César, é o Paiakam Jr., que já possui até netos.
Além disso, apenas os machos cantam, e as fêmeas são as que mandam na relação. Para participar de competições, é necessário que ele esteja ‘acasalado’ com uma fêmea, que também vai às competições. Essa é a motivação para cantar mais e competir com os outros. Para isso, é necessário que o criador saiba identificar quando os ‘pombinhos estão apaixonados’.
“A experiência vai te dizer, às vezes aqui dentro você escuta um cantando ali no canto, mas está respondendo uma fêmea que está distante. Você percebe que ele canta e logo depois ela responde. Ai você separa e deixam os dois juntos e vê se eles gostam um do outro, só assim para ter sucesso nos torneios”, afirma Cesar, que ficou em segundo, terceiro e quarto lugar na última competição estadual.
Torneios regionais reúnem até 300 pássaros cantores
Os torneios são realizados entre os meses de agosto e janeiro e nos outros períodos do ano as aves ficam em repouso, pois é nessa época em que elas trocam as penas. Segundo o presidente do Clube de Criadores de Pássaros de Cuiabá (CCPC), Luiz Antônio Guimarães, 26, nesta época elas não estão 100% para cantar e por isso são preservadas. Guimarães ainda alerta, que para participar das competições, é necessário autorização do Ibama.
“As pessoas que participam desses torneios possuem um cadastro técnico federal, que é um documento que o Ibama nos fornece. Nós somos todos regulares e também existem fiscalizações frequentes pelo Ibama e pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema)”, afirma Luiz Antônio.
Luiz Antônio é filho de passarinheiro e já nasceu com a paixão pelos bichos silvestres. Ele possui 30 animais e gasta em média R$ 1.500 mensalmente, apenas com alimentação e suplemento. Ainda segundo Antônio, os bichos são acompanhados por ornitólogos e veterinários.
Segundo Luiz, as competições são realizadas em 10 etapas, sendo que as cinco primeiras são realizadas em Cuiabá e as restantes em cidades do interior: Tangará da Serra, Sinop, Campo Verde, Primavera do Leste, Rondonópolis e Lucas do Rio Verde.
Em Mato Grosso, é realizada a competição na modalidade “Fibra”, onde são colocados os pássaros numa roda e é definido um juiz para cada unidade. Elas têm até 10 minutos para se apresentarem e o canto é cronometrado. As aves que cantarem por mais tempo é selecionada para as próximas fases. Nessa categoria, competem apenas os Curiós e os Bicudos.
Mais três espécies de pássaros competem em Mato Grosso, o Canário da Terra, Trinca-Ferro e Coleiro. No entanto, a modalidade na qual participam não se cronometram o tempo e sim o número de assovios dados em 10 minutos. De acordo com Luiz Antônio, que também é engenheiro agrônomo, essas três espécies não tem a característica de repetição.
Atividade preserva os pássaros da extinção, defende passarinheiro
O empresário Paulo Rogério de Almeida, 41, é criador de pássaros desde os 12 anos e, atualmente é presidente da Liga Mat, uma entidade que representa os clubes de criadores de pássaros do Estado. Almeida explica que tomou paixão pelo hobby após visitar amigos que também criavam pássaros, mas da maneira adequada. Desde então, se apaixonou pela atividade.
Para Rogério, o criador é aquele que tira filhote todos os anos, o que contribui para a reprodução dos passarinhos e a manutenção deles. São poucos os criadores que tem os bichos apenas para competição. “Todos tiram filhotes, para irem melhorando o plantel”, argumenta.
Rogério ainda explica que os pássaros podem ser comprados em comércios especializados e cada ave pode custar de R$ 400 até R$ 4 mil. Todos os filhotes são nascidos em cativeiro e cadastrados pelos órgãos de controle.
Já os animais que nascem nos criadouros, também precisam ser cadastrados no site do Ibama e colocado uma anilha na perna , até no máximo 15 dias. Após esse prazo, não é mais possível colocar a anilha e o criador pode sofrer sanções, que variam de espécie para espécie.
Ainda segundo o presidente da Liga Mat, qualquer cidadão pode criar pássaros, basta fazer o cadastro no site do Ibama e atender os requisitos, que não são muitos. Porém, a atividade exige dedicação para cuidar dos bichos e acompanhamento de um veterinário.
“Tem que ter um lugar onde essa ave não vá ficar muito estressada. Tem que ser um local tranquilo para ela ficar ali, sem ninguém incomodando muito. Além de uma gaiola adequada para cada espécie e alimentação, que sã os grãos e verduras”, informa Rogério.