Jurídico

Golpistas prometiam lucro de 250% em investimento de R$ 50 milhões

O produtor rural de Sinop, Teilor Seidler, afirmou que teve um prejuízo superior a R$ 2 milhões, por conta de um golpe aplicado contra ele, por uma suposta organização criminosa liderada pelo ex-vereador de Cuiabá, João Emanuel.

O caso é investigado em ação penal derivada da Operação Castelo de Areia, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).

"[por conta desse golpe] fiquei 'arrebentado e estou até hoje tentando me recuperar. Demiti todos os meus funcionários e vendi parte da minha fazenda. Acredito que são mais de R$ 2 milhões de prejuízo", disse o produtor, durante depoimento à Juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.

Ao promotor de Justiça do Gaeco, Samuel Frungilo, o produtor afirmou que foi apresentado a Walter Dias e Marcelo de Melo, em 2014.

"Estava pleiteando alguns recursos para investimento na nova safra. Precisava de um aporte de capital", disse.

"Eles ofereceram uma linha de crédito bastante atrativa, que não precisava de garantia real, era dar a safra como garantia", relatou.

Segundo Seidler, no acordo, ele investiria U$ 300 mil dólares na empresa American Financial Holdings LTDA, por meio da ABC Shares.

Seidler informa que acabou entregando R$ 398.650 ao grupo, para que uma conta fosse aberta em um banco de Santiago, no Chile.

"Por conta de alguns problemas relatamos por Walter e Marcelo, fiz os depósitos nas contas deles, que garantiram que repassariam os valores para o banco. Parte dos depósitos eu fiz para a conta de Shirlei Aparecida [esposa de Walter] e outra parte na conta de uma empresa, Cairos Construtora", declarou.

O produtor relatou que chegou a ir a Santiago (Chile), por duas vezes.

A primeira viagem ele foi sozinho e acabou não encontrando o banco citado pelos réus no endereço informado anteriormente.

Na segundo ida ao Chile, na companhia de Walter e Marcelo, o produtor disse que assinou contratos com o banco.

"Fizemos a abertura das contas. Fui levado até um escritório muito bem estruturado, mas sem identificação. Disse que gostaria de conhecer a sede do banco, mas eles colocaram uma série de problemas", declarou.

"Estava me forçando a acreditar nesse negócio, pois já tinha depositado quase R$ 400 mil", desabafou.

Ainda em seu depoimento, o produtor declarou que só descobriu que havia caído em um golpe, quando investigou o suposto site do banco que havia feito referido investimento.

De acordo com o depoimento, a página que o empresário acessava continha as informações das contas abertas no Chile e o valor que havia investido.

"Investiguei o site do banco e descobri que a página nem criptografado era. Dai tive a certeza que tinha caído em um golpe. Dias após, não aparecia mais nenhuma informação na página", informou.

Reuniões com chinês

Além de Seidler, a juíza Selma Arruda também ouviu outra suposta vítima do grupo de João Emanuel.

O empresário do ramo da construção, Edson Vieira dos Santos, afirmou que se reuniu com o ex-vereador, que se apresentou como presidente do Grupo Soy.

Conforme Edson Vieira, em dezembro de 2015, João Emanuel ofereceu um investimento de alto vulto no Amazonas e em Cuiabá, em que iria auferir um lucro de R$ 170,6 milhões, desde que disponibilizasse 40 folhas de cheques totalizando o valor de R$ 50.500.000,00.

"Ele me chamou para ser parceiro de um negócio, para a construção de um condomínio na Amazônia, para vender a americanos", explicou.

Conforme o empresário, a negociação também envolvia o projeto da construção de um condomínio na Capital mato-grossense.

Por conta disso, ele informou que foi apresentado a suposto proprietário de um banco na China (HSBC Internacional).

Neste encontro, conforme o relato de Edson Vieira, João Emanuel fazia o papel de tradutor do banqueiro chinês.

"Ele [banqueiro] falava meio enrolado. João Emanuel traduzia o que ele falava na língua que não conhecia", afirmou.

Quando descobriu o golpe, Edson disse que voltou a procurar o grupo, mas que recebeu apenas promessas que nunca foram cumpridas.

Foi então, que o empresário sustou todos os cheques.

"Sustei os cheques. Todos eles foram devolvidos ao banco. Tive que pagar R$ 4 mil de taxas e minha conta no Itaú foi encerrada", afirmou.

"Tudo isso me levou 20 anos de trabalho", disse.

Prejuízo de R$ 40 mil

O empresário Gilson Cesar do Nascimento, dono da Material Forte, foi a terceira suposta vítima do grupo.

De acordo com ele, em dezembro de 2015 foi apresentado a um homem chamado Ailton, que seria funcionário do Grupo Soy.

Por meio de Ailton, o empresário disse que conheceu Evandro José Goulart, que seria o gerente financeiro do grupo.

"Em dezembro de 2015, um dos meus funcionários disse que um grupo estava financiando projetos. Minha empresa estava passando por dificuldades e não conseguiria financiamento nos bancos oficiais", declarou.

"Evandro fez o cadastro da minha empresa. Fiz um levantamento dos passivos e ativos, para conseguir o financiamento que era feito em dólar", relatou.

Segundo a testemunha, Evandro disse que precisaria de um "recurso como fiança", para o financiamento que seria feito por um banco chinês.

"A intenção era pleitear U$ 4 milhões. Então, precisaria adiantar R$ 200 mil", explicou.

O empresário declarou que deu seis cheques, sendo que dois deles, no valor de R$ 20 mil cada, foram descontados.

O empresário completou, afirmando que desistiu da negociação, após 60 dias se passarem, sem que o dinheiro do financiamento fosse disponibilizado.

Ele sustou os quatro cheques restantes e buscou o ressarcimento dos R$ 40 mil pagos ao grupo.

"Eles devolveram as folhas de cheque e prometeram devolver os R$ 40 mil. Como não fizeram a devolução, nós acionamos o jurídico da empresa", finalizou.

Relembre o caso

Deflagrada pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e o Núcleo de Inteligência da Delegacia Regional de Cuiabá, unidades da Polícia Judiciária Civil, a operação Castelo de Areia levou a prisão de cinco membros de uma suposta organização criminosa que lucrou mais de R$ 50 milhões, por meio de crimes de estelionatos operados pela empresa Soy Group, com sedes em Cuiabá e Várzea Grande. 

Em um dos golpes, uma vítima afirma que o vice-presidente da empresa Soy Group, o advogado João Emanuel, teria utilizado um falso chinês para convencê-lo em um suposto investimento com parceria com a China, fazendo com que o investidor emitisse 40 folhas de cheque, que juntas somam o valor de R$ 50 milhões. O ex-vereador fingiu ser intérprete e falar mandarim.

O Ministério Público ofereceu denúncia contra oito pessoas, por constituição de organização criminosa e estelionato. 

Na ação, além de Emanuel, também são réus: o irmão do ex-vereador, o advogado Lázaro Roberto Moreira Lima; o pai dos dois, o juiz aposentado Irênio Lima; os empresários Walter Dias Magalhães Júnior, sua mulher Shirlei Aparecida Matsouka Arrabal, e Marcelo de Melo Costa; o contador Evandro José Goulart; e o comerciante Mauro Chen Guo Quin.

Felipe Leonel

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