Foto: CMT
Um casal vindo do Haiti não conseguiu matricular um de seus filhos no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) localizado no Bairro Real Parque, em Cuiabá.
Paul Jeantihomme, 43, e Saphine Jean, 33, suspeitam de que a vaga para seu filho de dois anos só não foi dada, pois são estrangeiros.
Morando em Cuiabá há cinco anos, o casal haitiano teve o menino Chrichley Jean Jeantihomme em solo brasileiro.
“Me falaram que não tinham vaga, mas uma família brasileira conseguiu matricular o filho deles. Nenhum haitiano está conseguindo colocar seus filhos nas creches”, disse Paul, ao Circuito Mato Grosso.
De acordo com Saphine, que trabalha como diarista, eles chegaram a fazer o pedido de matricula na unidade escolar pela internet, assim como determinou a Secretaria Municipal de Educação (SME).
“Disseram que deveríamos fazer essa inscrição pela internet. Pedi uma amiga brasileira e ela fez para meu filho. Fiquei esperando a ligação da Prefeitura, no entanto, não ligaram. Fui até a creche e questionei o motivo de não terem chamado meu filho. A diretora disse que ela não era responsável por conceder a vaga”, explicou Saphine.
“Trabalho em muitas casas, pois procuro emprego no Sine, mas nunca consegui. Deixo meu filho com minha vizinha. Mas ela não pode ficar com ele todos os dias. Acaba que preciso ficar pedindo para outras pessoas. Isso é perigoso”, relatou a diarista.
Para a diarista, tal ação se deve ao fato de serem estrangeiros.
“Ano passado, cinco haitianos fizeram a inscrição, mas nenhum conseguiu matricula. Esse ano também não. Não há nenhum haitiano nessas creches. Nós também precisamos. Eu penso que isso é racismo, pois não há nenhum haitiano matriculado”, afirmou Saphine.
Mesmo critério
Procurada pelo Circuito Mato Grosso, a secretária municipal de Educação, Mabel Strobel, afirmou que não houve qualquer tipo de discriminação contra a família haitiana.
De acordo com Strobel, o filho do casal não foi selecionado pelo sistema de pré-matricula, já que todos que se inscreverem, brasileiros ou não, passaram pelo mesmo critério de avaliação.
“Surgiu esse comentário de que famílias haitianas teriam sido discriminadas, em detrimento de brasileiros. Esses haitianos fizeram a pré-matrícula web, mas não foram contemplados, pelo critério da proximidade com a unidade”, explicou.
“Não houve qualquer discriminação ou distinção. Eles participaram do processo. Não é por serem estrangeiros, que terão direito a passar na frente. Todos são obrigados a passar pelo processo seletivo”, disse.
Segundo a secretária, na Capital, ainda não há uma política pública de acolhimento a famílias estrangeiras.
“A secretaria fez um processo seletivo para contratar profissionais e dentre os selecionados, está uma professora que irá elaborar essa política de acolhimento. Primeiro, haverá um mapeamento, para identificar onde estão esses estrangeiros e saber em qual unidade irá precisar de mais vagas”, explicou.
Disputa por vagas
Não só famílias haitianas ficaram sem vagas para seus filhos na rede municipal de ensino da Capital.
Desde segunda-feira (6), centenas de pais estão lotando a recepção da Secretaria de Educação, em busca de uma vaga.
As pré-matrículas ocorreram entre os dias 23 e 26 de janeiro, pela internet, no entanto, até esta terça-feira (7), muitos pais reclamam que não conseguiram matricular seus filhos.
As aulas na rede municipal de educação começaram nesta segunda-feira (6).
De acordo com a secretaria, foram ofertadas 3.712 vagas para crianças de zero a 5 anos em 51 creches, 15 CMEI e um Centro Emergencial de Educação Infantil (CEEI) de Cuiabá.
Veja trecho do relato do casal haitiano:
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