Nacional

Academia é o caminho para independência na terceira idade, diz especialista

Envelhecer com disposição, saúde e independência: o desejo é de todo mundo, mas nem sempre se torna realidade. No Brasil, uma em cada três pessoas com mais de 60 anos enfrenta dificuldades para executar funções básicas do dia a dia — como sentar e levantar do vaso sanitário, subir os degraus de uma escada ou levantar uma caixa. Dentro desse grupo, 80% depende da ajuda de familiares para realizar essas e outras atividades do cotidiano, segundo dados de análise da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Para reverter o quadro, não existe caminho melhor que a prática de esportes. Mais especificamente, a musculação.

Processo inevitável

De acordo com o coordenador do setor de fisioterapia do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte, Maurício Garcia, os músculos mais fortes não só garantem resistência e disposição para realizar atividades do cotidiano, como protegem a estrutura óssea e previnem quedas — um dos problemas mais recorrentes da terceira idade. E nem adianta pensar que esse tipo de dificuldade não vai atingir você: o processo de envelhecimento é inevitável e traz consequências mesmo para quem sempre foi fisicamente ativo.

— O que a acontece, fisiologicamente, é que homens acima dos 60 anos e mulheres acima dos 55, mais ou menos, passam por um processo chamado sarcopenia —  que é a perda de massa e de força na musculatura esquelética com o envelhecimento. Isso ocorre mesmo que a pessoa mantenha o estilo de vida ativo que já tinha.

Nesse sentido, fazer exercícios de força na academia melhora a postura corporal, aumenta a densidade óssea — que ajuda a combater o aparecimento da osteoporose —, diminui de dores articulares que afetam coluna, ombros e joelhos e aumenta a confiança do indivíduo para realizar as tarefas do cotidiano. 

— O idoso não quer depender dos outros para realizar essas pequenas coisas. Geralmente, quando alguém tenta ajudar, eles dizem que preferem e sabem fazer sozinhos. E aí, aquele indivíduo que não tem preparo físico acaba aumentando os riscos à saúde para tentar se mostrar útil à sociedade e à família.

O especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e Diretor da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte) Marcelo Leitão ainda diz que a musculação diminui as chances do idoso desenvolver males decorrentes do sedentarismo, como infarto, AVC, hipertensão e diabetes. Atualmente, essas doenças respondem por 72% das mortes no Brasil.

Antes de começar

Homens e mulheres com mais de 60 anos que desejem começar a malhar devem fazer um checkup antes de ir à academia. No cardiologista, é recomendável realizar exames de eletrocardiograma em repouso e esforço. O diretor da SBMEE também indica uma visita ao ortopedista, para que o paciente confira sua situação ósseo muscular.

— É muito importante ressaltar que a avaliação médica tem sempre como objetivo orientar a realização dos exercícios físicos, e não impedi-la. 

Já na academia, os idosos devem procurar a ajuda de um profissional de educação física antes de começar a se exercitar. O ideal é que o professor monte um programa de exercícios especial para aquela pessoa, segundo Garcia.

— É um dos princípios do treino de força. Se a pessoa gosta de ioga, por exemplo, o treino vai ser elaborado com exercícios de levantar, agachar e assim por diante. Se ela gosta de caminhada, o treino vai elaborar algo para que o corpo dela melhore para desempenhar esse tipo de função. É um trabalho específico para a rotina do indivíduo.

Orientação profissional

O acompanhamento do professor também vale para a execução dos exercícios nos aparelhos. Sem orientação, o idoso pode desenvolver problemas como estiramento muscular, tendinite ou mesmo piora de comprometimentos já existentes nas articulações, diz Marcelo Leitão, diretor da SBMEE. De acordo com ele, o mais indicado é que os exercícios comecem com baixa carga (pouco peso) e mais repetições.

Depois que os músculos e articulações já estiverem adaptados e a rotina de exercícios estiver estabelecida, a musculação com carga pesada pode ser incorporada à terceira idade — sempre sob observação profissional. Segundo pesquisa recente desenvolvida por Amanda Sardeli, do programa de gerontologia da Faculdade de Educação Física da Unicamp, os exercícios com força máxima (nome técnico dado à maior força que o sistema neuromuscular é capaz de produzir numa contração muscular) não oferecem tantos riscos para a pressão arterial dos idosos quanto se acreditava.

— Foram acompanhados 21 idosos saudáveis por um período de seis meses. Durante os exercícios com força máxima, observamos aspectos como pressão arterial durante o exercício, a pressão arterial depois do exercício e o controle do sistema nervoso sobre o coração. O que se concluiu foi que, em uma janela de 30 minutos após o esforço em pessoas destreinadas — que é o tempo que o corpo leva para voltar ao estado de repouso —, houve baixo risco de AVC, infarto e rompimento de aneurisma.

Pequenas intervenções, grandes resultados

Mesmo com carga ainda baixa, os resultados após o início do treino na academia não demoram a chegar. Em apenas um mês, já é possível observar melhora em aspectos como disposição e humor do idoso. Em dois ou três meses, já dá para constatar um melhor desenvolvimento da musculatura e, consequentemente, aumentar o peso nos aparelhos. Marcelo Leitão conclui que não há faixa etária que se beneficie mais da prática desse tipo de esporte do que a terceira idade.

— Isso acontece porque, quando a pessoa está no auge de sua forma física, grandes intervenções tendem a trazer pequenos resultados. Por outro lado, quando a pessoa tem o físico pouco desenvolvido, qualquer intervenção — por mínima que seja — traz muitos resultados positivos.

Fonte: R7

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Nacional

Comissão indeniza sete mulheres perseguidas pela ditadura

“As mulheres tiveram papel relevante na conquista democrática do país. Foram elas que constituíram os comitês femininos pela anistia, que
Nacional

Jovem do Distrito Federal representa o Brasil em reunião da ONU

Durante o encontro, os embaixadores vão trocar informações, experiências e visões sobre a situação do uso de drogas em seus