Parentes de presos foram impedidos de entrar nos presídios do Rio de Janeiro nesta terça-feira (17), por causa da greve dos agentes penitenciários. Na porta do Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, muitos reclamavam da situação.
Daniele Ribeiro saiu de Angra dos Reis, no Sul Fluminense, para visitar a filha que está presa no complexo. Ao chegar ao presídio, por volta das 9h, soube que teria que ficar do lado de fora, como muitas outras mães de detentos.
"Eu tento procurar entender, mas eu sou mãe e quero também o bem da minha filha. Se eu não chego aqui com a comida para ela, sabe lá quando ela vai ter. O dia da minha folga é hoje. Para eu voltar aqui, só na outra semana – e isso só se tiver dinheiro. Eu ganho um salário mínimo. Eu saio de Angra para vir para cá para não deixar ela passar fome aí dentro. Eu trouxe strogonoff, arroz. Eu compro para ela biscoito, compro leite. Vai tudo estragar", disse Daniele.
A precariedade nos presídios, segundo Daniele, também é algo que preocupa. Ela afirma que não há condições de ressocialização dentro das unidades.
"Eles estão vendo a parte deles, mas o governo tem que começar a ver a parte dos presos. Eles querem que eles saiam daí direito, mas eles não fazem nada aí dentro para os presos se endireitarem. Não tem nada aí dentro e, pelo contrário, são tratados como animais. Comida chegando azeda, tem vezes que eles ficam três, quatro dias sem tomar banho. A situação deles está crítica aí dentro, não é só o lado deles que está sem receber, não", disse Daniele.
Outra parente de preso, Kátia Cristina disse que chegou um dia antes para conseguir pegar uma das senhas, que começam a ser distribuídas às 4h.
"Eu chego aqui por volta das 19h, durmo por aqui mesmo, e 4h começam a dar a senha. Umas 8h é a hora que a gente entra. Eu queria perguntar ao senhor Pezão [governador do estado] o que ele tem a fazer sobre essa questão, porque isso aqui é um sofrimento. Se os presos estão aqui para melhorar, então que tenha mudança", disse Katia.
A medida de não permissão para visitas revoltou os familiares que madrugaram em frente ao Complexo de Gericinó. Para Katia, o bloqueio das visitas não é uma das formas de ajudar o detento a sair melhor do presídio.
"A gente vem porque é um sobrinho, um pai, um esposo, que a gente não quer abandonar, porque também é através da nossa visita que eles têm a recuperação deles. Privando a nossa visita, você acha que eles estão como aí dentro? Eu sei que o Desipe [Departamento do Sistema Penitenciário] está sem receber e também tem família, mas eles têm o sindicato deles para correr atrás disso. Não precisava aderir à greve dessa forma. Deixasse a gente entrar, cortasse a visita mais cedo, a gente ia entender. Eles começaram a greve à meia-noite, a gente já estava aqui", disse Katia.
Paralisação
Agentes penitenciários e policiais civis deram início a uma paralisação na madrugada desta terça-feira por estarem com o salário de dezembro e com o 13º salário atrasados.
Os agentes da Secretaria de Administração Penitenciária também reivindicam a melhoria das condições de trabalho, já que os presídios estão superlotados e não houve aumento de efetivo.
Os policiais civis exigem o pagamento do salário de dezembro (2016), do 13° salário (2016), do RAS (atrasado desde junho de 2016) e das metas (atrasadas desde dezembro de 2015) para ativos, inativos e pensionistas.
A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que possui um plano de segurança para manter a rotina das unidades prisionais, mas não deu detalhes sobre esse plano e não informou qual foi a adesão dos agentes penitenciários à paralisação até a manhã desta terça.
Fonte: G1