Como se não bastassem o impedimento de circular livremente e o risco de balas perdidas, tiroteios no Rio causam com frequência um outro efeito colateral que atrapalha – e muito – a rotina dos moradores: falta de luz. Somente no ano de 2016, a Light registrou 268 interrupções no fornecimento de energia em decorrência de confrontos. Moradores de favelas são as principais vítimas do problema.
De acordo com André Luiz Barata Pessoa, Superintendente de Distribuição da Light, o reparo de equipamentos danificados por projéteis gera, em média, um prejuízo de R$ 1,4 milhão por ano para a concessionária.
“Isso gera um prejuízo alto porque temos que substituir os equipamentos das redes. As vezes são cabos, mas as vezes temos que trocar um transformador inteiro. Ao todo, 138 transformadores foram afetados por projeteis no ano passado”, afirma.
De acordo com o superintendente, 78.734 domicílios de clientes foram atingidos com essas interrupções, o que significa cerca de 314 mil pessoas afetadas.
Transtornos para os moradores
Além do prejuízo para a empresa, moradores ficam horas sem ter o fornecimento de energia reestabelecido. Uma moradora do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, conversou com o G1 e contou que dois dias antes do natal teve que sair de casa com a sua filha de 1 ano porque a energia foi interrompida. Além disso, perdeu muita comida.
"Eu e meu marido tivemos que ir 4h da manhã pra casa do meu sogro, com minha filha pequena, porque estava muito quente e tinha muito mosquito. Ainda perdi todas as carnes dos freezer, um prejuízo de quase R$150 logo antes das festas de fim de ano", contou.
Um morador da favela do Mandela 1 que também não quis se identificar, contou que chegou a ficar sem luz durante 24 horas no primeiro dia do ano.
"Eu tive que dormir na casa da minha ex-sogra. Fui obrigado, porque não ia conseguir trabalhar na segunda, se não tivesse dormido. Dia 1º, a luz faltou por volta das 10h e só voltou dia 2, no mesmo horário", afirmou.
De acordo com Barata, para as equipes entrarem nas chamadas áreas de risco, é preciso ter a liberação da polícia, o que pode demorar ainda mais para o reparo.
“A gente espera estar seguro para a equipe entrar. Depois desse tempo de espera ainda demora, em média, de 4h a 5h para o reparo dos equipamentos”, explica.
Casos de polícia
Além de todos os transtornos para os moradores, para as equipes técnicas também não é nada fácil. De acordo com a empresa, funcionários já foram agredidos, ameaçados e até obrigados a transportar drogas.
“No triênio 2014/2016, a Light realizou 96 Registros de Ocorrência, junto à polícia, relacionados à algum tipo de violência contra os funcionários da concessionária. São casos como roubo, sequestro, lesão corporal, entre outros casos”.
Zona Norte é a mais afetada
De acordo com a Light, das 268 interrupções que aconteceram no ano de 2016, 157 foram na Zona Norte, representando 58,5%. Na Zona Sul foram 72 interrupções, equivalendo a 26,8%. Na Zona Oeste foram 21 interrupções, 7,8%. Já na Baixada Fluminense foram 11 interrupções, 4,1% e no Vale Paraíba foram 7 interrupções, equivalendo a 2,6%.
Nesta quarta-feira (4), pelo menos quatro regiões do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte, ficaram sem energia elétrica após inteso tiroteio na comunidade. As localidades conhecidas como Coqueiro, Inferno Verde, Alvorada e Fazendinha ficaram sem luz por volta das 16h.
Fonte: G1