Opinião

8 de Março: Um Dia de Luta, Não de Comemoração

O Dia Internacional da Mulher deveria ser um símbolo de conquistas, mas como celebrar quando a violência contra nós cresce a cada dia? Quando ser mulher ainda é sinônimo de medo? Quando tantas de nós são silenciadas antes mesmo de terem a chance de viver plenamente?

O machismo nos mata. Mata fisicamente, nos feminicídios que se acumulam nas estatísticas. Mata psicologicamente, quando nos ensinam desde pequenas a nos calar, a nos moldar, a nos colocar em segundo plano. Mata socialmente, quando nos impõe barreiras no mercado de trabalho, nos coloca dentro de cotas, nos nega oportunidades e nos descarta ao menor sinal de envelhecimento.

O feminicídio não é um caso isolado, é um sintoma de uma sociedade doente. Quando uma mulher é morta apenas por ser mulher, isso não é um crime passional, não é um incidente, é a face extrema de um sistema que nos inferioriza em todas as esferas da vida. O assassinato é o ponto final de um roteiro que começa na desvalorização, no desrespeito e na impunidade.

Nosso Corpo Não É Domínio de Ninguém

Desde cedo, somos ensinadas a temer. Não andar sozinhas à noite. Não usar roupas “provocantes”. Não dizer “não” de forma muito firme para não irritar. Pedimos carona para amigas ao invés de pegarmos um transporte público sozinhas. Compartilhamos nossas localizações em tempo real para garantir que chegaremos vivas. Essa não é uma realidade normal, mas sim um cárcere invisível que nos obriga a viver sempre em estado de alerta.

A ditadura da moda e dos padrões estéticos é outra forma de violência. Somos pressionadas a nos encaixar em um modelo idealizado que nos afasta de nós mesmas. Se somos jovens, somos hipersexualizadas; se envelhecemos, somos descartadas. Nos dizem que devemos ser magras, mas não muito; que podemos ser sensuais, mas não vulgares; que podemos trabalhar, mas sem ameaçar a masculinidade de ninguém. Essa obsessão pelo corpo feminino como um objeto moldável nos desumaniza e nos transforma em produtos de consumo, não em pessoas.

E ainda temos o Etarismo: Tempo Como Inimigo da Mulher

Enquanto os homens envelhecem e são vistos como maduros, sábios e respeitáveis, nós somos ensinadas a temer cada fio branco, cada ruga, cada mudança natural de nossos corpos. As mulheres são constantemente forçadas a travar batalhas contra o tempo, gastando fortunas para parecerem mais jovens, enquanto a sociedade as torna invisíveis depois de certa idade.

O etarismo é mais uma face do machismo estrutural. É um sistema que faz com que mulheres sejam descartadas profissionalmente, que tenham sua voz diminuída e que sejam menosprezadas pelo simples fato de não corresponderem mais aos padrões de beleza impostos. O envelhecimento não deveria ser um fardo, mas sim um privilégio. No entanto, para muitas mulheres, ele representa um apagamento social.

O Que Queremos? Justiça, Respeito e Igualdade

Não queremos flores no Dia da Mulher. Não queremos mensagens vazias, comerciais oportunistas ou discursos de valorização que não se refletem na prática. Queremos que a violência acabe, que nossos direitos sejam respeitados e que possamos viver sem medo. Queremos um mundo onde ser mulher não seja um risco. Queremos ser tratadas como seres humanos iguais que somos.

Que este 8 de março não seja apenas mais um dia no calendário, mas sim um lembrete de que ainda há muito a ser feito. Que a luta continue, porque não há o que comemorar enquanto mulheres ainda forem mortas, silenciadas e reduzidas a padrões impossíveis.

Se há algo a celebrar, que seja nossa resistência. Nossa voz. Nossa luta diária para existir em um mundo que, muitas vezes, tenta nos, diminuir, nos apagar.

Olinda Q. Altomare

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Foto Capa: Reprodução

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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