Plantão Policial

600 servidores públicos estão sendo investigados em Mato Grosso

Com Sandra Carvalho 

As prisões de três de agentes de tributos na Operação Zaqueus, da Delegacia da Fazenda (Defaz), nesta quarta-feira (3) trouxe de volta à tona os casos de desvio de servidores públicos. Conforme a Controladoria Geral do Estado (CGE), 600 processos administrativos disciplinares estão hoje em andamento em Mato Grosso, em investigação de casos, principalmente, corrupção do Poder Público, assédio sexual e pedido de propina.

Segundo a assessoria do CGE, os casos de assédios são referentes, na maioria, a denúncias de supostos abusos em escolas. 

Cerca de 80% dos casos estão concentrados em cinco secretarias: a de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), de Educação (Seduc), de Meio Ambiente (Sema), de Saúde (SES) e o Departamento de Trânsito em Mato Grosso (Detran-MT).

Os dados não incluem servidores da Procuradoria Geral do Estado (PGE), polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros. Todos têm investigações próprias de seus casos, que não regidos pelo Estatuto do Servidor Civil de Mato Grosso.

A Operação Zaqueus foi deflagrada pela Defaz após a constatação de uma série de irregularidades, em 2015, pela CGE no processo de concessão de incentivo fiscal à empresa Caramuru Alimentos S/A. A autorização continha "vícios materiais e formais insanáveis", que levaram à suspensão do incentivo em fevereiro do ano passado.

Durante a investigação das irregularidades, a Defaz e a Polícia Civil identificaram o benefício administrativo à Caramuru Alimentos S/A com redução no valor de multas autuadas de R$ 65,9 milhões para R$ 315 mil.

Conforme a Controladoria do Estado, a redução foi realizada por meio de fraude, que custou R$ 1,8 milhão em propina aos três agentes de tributos presos nesta quarta-feira em ações deflagradas em Cuiabá e no Rio de Janeiro.

Entres os presos estão os agentes André Neves Fantoni, Alfredo Menezes Mattos Junior e Farley Coelho Moutinho. Ao todo sete ordens judiciais foram expedidas, três mandados de busca e apreensão, três de prisão preventiva e um de condução coercitiva. Um mandado de prisão, um de busca e apreensão e a condução coercitiva foram cumpridos na Cuiabá. No Rio de Janeiro foram cumpridos dois mandados de prisão e de busca, com apoio da Delegacia de Repressão as Ações de Crimes Organizados (Draco-RJ).

A Caramuru Alimentos entrou com pedido de enquadramento no Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso) em 2010, por meio de três empresas, com sedes em Água Boa, Querência e Canarana, em Mato Grosso. A aprovação foi concedida em setembro de 2014, durante a gestão de Silval Barbosa (PMDB).

Em nota publicada à imprensa após a deflagração da operação, a empresa se disse vítima de extorsão em esquemas de agentes de tributos da Secretaria de Fazenda (Sefaz) e que colaborou com a investigação da Defaz e Polícia Civil que levou à operação.

OPERAÇÕES LEVAM SERVIDORES À PRISÃO

OPERAÇÃO RÊMORA

No dia 3 de maio de 2016, o Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou a Operação Rêmora, para combater fraudes em processos licitatórios em Mato Grosso. Foram 39 mandados cumpridos entre prisões, conduções coercitivas e buscas e apreensões.

A operação envolve fraudes em cerca de 20 obras de escolas estaduais, esquema que envolve 23 empresários na formação de cartel e mais de 20 obras suspeitas de irregularidades. Três servidores foram detidos: Fabio Frigeri e Wander Luiz dos Reis.

De acordo com a denúncia, o empresário e delator da Operação Rêmora, Giovani Guizardi, recebeu, no escritório de sua empresa, o pagamento de R$ 125 mil a título de propina do empresário Ricardo Saguarezi, dono das construtoras Relumar Construções Ltda. e Aroeira Construções Ltda.

A propina foi cobrada para “liberar” o pagamento de R$ 1,3 milhão, referente a débitos que o empreiteiro tinha a receber em contratos firmados com o Governo do Estado.

Além disso, o Gaeco também apontou que o ex-servidor Fábio Frigeri recebeu R$ 111,9 mil do empresário Ricardo Saguarezi para “liberar” o pagamento de débitos que o empreiteiro tinha a receber em contratos firmados com o Governo do Estado.

As cobranças de propina, de acordo com a denúncia, eram autorizadas pelo ex-secretário Permínio Pinto. Os pagamentos foram confirmados pelo próprio empreiteiro, que foi ouvido no Gaeco.

OPERAÇÃO DRÍADES

O Governo de Mato Grosso instaurou um procedimento administrativo em abril de 2017 contra os servidores Paulo Miguel Renó e Juliana Aguiar da Silva, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT).

Eles estão citados na Operação Dríades, deflagrada pelo Gaeco no dia 26 de agosto de 2015 e que teve como objetivo desmantelar uma organização criminosa que atuava na Sema-MT. O grupo agia cometendo fraudes no Sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais (Sisflora) por meio da emissão e cancelamento de guias florestais visando à multiplicação de créditos indevidos para os Estados de Goiás e Pará.

No total, 2.022 operações fraudulentas foram geradas, acarretando créditos indevidos de 148.873,9964 m³ de madeiras, de diversas espécies. As investigações iniciaram-se em janeiro de 2015 por meio de uma auditoria, realizada pela própria Sema-MT, que detectou que quatro madeireiras localizadas em Mato Grosso fraudaram o Sisflora, emitindo, e logo em seguida cancelando, guias florestais.

A autorização da venda de produtos florestais ao Pará e a Goiás foi indevidamente concedida por servidores da secretaria. 

OPERAÇÃO PÉRFIDO

Servidores e empresários foram presos no dia 29 de março de 2017, quando nove mandados de prisão preventiva, nove de buscas e apreensão e sete mandados de conduções coercitivas foram cumpridos pela Polícia Judiciária Civil, na Operação Pérfido, deflagrada pela Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz).

A investigação da Defaz apura esquema de corrupção, concussão, sonegação de impostos e outros crimes praticados por uma organização criminosa constituída por servidores municipais, que em conluio com empresários e contribuintes várzea-grandenses provocaram grande prejuízo ao município de Várzea Grande.

Os membros da organização criminosa são servidores públicos e particulares que burlavam o sistema de banco de dados de gestão tributária para reduzir, dar baixa ou cancelar indevidamente créditos tributários, frustrando a arrecadação do município de Várzea Grande em benefício dos próprios servidores municipais e empresários/contribuintes.

Mais de 100 denúncias registradas pelo canal de denúncias

O canal de denúncias criado pelo Gabinete de Transparência e Combate à Corrupção (GTCC) registrou 110 denúncias de improbidade administrativa ou atos que configurem corrupção entre os meses de janeiro de 2016 e março de 2017.

Dentre as denúncias lavradas estão suspeitas de corrupção em contratos para prestação de serviços ou aquisição de produtos, desvios de recursos públicos e recebimento de vantagem para dar celeridade a processos.

Uma delas ocorreu recentemente. Trata-se do caso de um homem que foi preso em flagrante em fevereiro deste ano por oferecer dinheiro a servidores da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística (Sinfra) em troca de vantagens para as empresas representadas por ele.

A denúncia feita por servidores da Sinfra foi encaminhada ao Gabinete de Combate à Corrupção e investigada pela Delegacia Fazendária (Defaz).

No intuito de reforçar medidas preventivas e repressivas, o Gabinete de Transparência já capacitou 1.457 servidores no sentido de conscientização e necessidade de um comportamento dentro das normas éticas e morais.

O próximo passo será levar às escolas um circuito de palestras de combate à corrupção.

A meta é atingir aproximadamente 2 mil alunos até o final deste ano, conforme adiantou e secretário do gabinete de Transparência e Combate à Corrupção, delegado Fausto Freitas.

“Já iniciamos trabalhos junto a conselhos, escolas e sociedade organizada. Percebemos que há ainda um desconhecimento do canal de denúncias por parte da população. No entanto, estamos buscando fazer o corpo a corpo e reforçando a divulgação com jovens e adultos”, afirmou o secretário.

De acordo com Fausto Freitas, se ao longo da investigação o denunciante obtiver mais elementos que auxiliem no processo pode continuar encaminhando para o gabinete.

“As denúncias feitas no canal geram um protocolo e a pessoa consegue acessá-lo depois utilizando o número para consultar o status. É importante lembrar ao denunciante que se ele conseguir informações complementares pode mandá-las porque às vezes ele passa uma informação superficial que dificulta a apuração do caso”, explicou.

O canal de denúncias permite que qualquer pessoa envie denúncias pelo site www.denunciaagora.com.br, por ofício, pelo telefone (65) 3613-4558 ou pessoalmente no GTCC, localizado na Avenida 1 – Complexo Palácio Paiaguás (Centro Político Administrativo), das 13h às 19h. O denunciante pode manter o anonimato.

122 prisões envolvendo o Detran

No mês de fevereiro o GTCC se uniu ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran) para otimizar as investigações ligadas a atos de corrupção, falsificação de documentos, uso de documentos falsos para liberação de veículos de terceiros e inserção de dados falsos no sistema de informação.

Conforme levantamento do Detran, entre 2015 e 2016 foram registradas 122 prisões, envolvendo servidores municipais, estaduais, servidores do Detran, credenciados, empresários e usuários.

No mesmo período, o Gabinete de Transparência e a Procuradoria Geral do Estado passaram a integrar a Rede de Controle da Gestão Pública do Estado em Mato Grosso.

A Rede de Controle é uma organização que tem como propósito aprimorar a efetividade da função de controle do Estado sobre a administração pública. Fundada em 2010, a rede é composta por 13 instituições fiscalizadoras estaduais e federais.

Reinaldo Fernandes

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