Cidades

60% dos bairros da Capital são fruto de invasão

Em meados a décadas de 60 e 70, invasores que desejavam regular um terreno de forma ilegal colocavam documentos falsos dentro de caixas com grilos. Após algum tempo, retiravam estes mesmos papéis com aspecto envelhecido, devido aos orifícios provocados pelos insetos, para tentar provar a legitimidade da terra através destes ofícios. Este ato, registrado nos relatos históricos do país, deu origem ao já popular ‘grilo’, ou seja, área pública ou privada ocupada por terceiros sem licitude. 

Em Cuiabá, segundo dados da Defensoria Pública do Estado, dos 220 bairros cadastrados, pelo menos 60% são considerados grilos. Diversas áreas estão ocupadas por moradores que não têm condições financeiras para pagar um aluguel mensalmente e buscam melhores condições de vida.

O embate entre os grileiros (moradores do grilo) e proprietários de áreas invadidas é um dilema há décadas na Capital. E ambas as situações são questões complicadas, porém debatidas pelas frentes envolvidas no caso. Mas a maior questão é: até que ponto prevalece o direito de moradia?

Segundo dados da Defensoria Pública do Estado, só em Cuiabá, dos 220 bairros cadastrados, pelo menos 60% são considerados grilos. Diversas regiões consideradas ‘sem uso’ são ocupadas por moradores com o perfil acima descrito.

Jaiane Dark da Silva, de 26 anos, moradora do ‘grilo’ Residencial Dante de Oliveira, localizado no bairro Santa Izabel, conta que antes de construir uma casa de madeira no local, morava com os quatro filhos com os pais, em apenas quatro cômodos. Apesar das dificuldades de não ter água encanada, luz elétrica e sofrer com a baixa umidade do ar na cidade, ela salienta que foi a melhor opção ter invadido o espaço: ”Trabalho como doméstica e ralo muito para conseguir sustentar eu e meus três filhos. Porque, para alugar uma casinha, tem que pagar 400 reais no mínimo, fora água, luz, comida e tudo mais. Vir pra cá melhorou a minha qualidade de vida”.

O terreno foi ocupado em fevereiro do ano passado e atualmente abriga em média 80 famílias. Junto com os moradores da região, Jaiane se organiza para tentar regularizar o espaço que servia anteriormente de desova, tanto de objetos roubados quanto de restos mortais de pessoas, que foram encontrados durante a ocupação.

Segundo ela, a prefeitura teria alegado que havia projetos de construir uma escola e uma creche no terreno, que é de propriedade pública. No entanto, essas iniciativas estão no papel há mais de 25 anos sem previsão de execução. “Já nos inscrevemos no Minha Casa Minha Vida, mas tem mais de mil pessoas na frente. Então, a gente se mantém aqui até sair o sorteio. Enquanto não somos contemplados, a gente continua aqui”.

Confira reportagem na íntegra. 

Noelisa Andreola

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