100 anos! Comemora-se neste ano o centenário do Sacy-Perêrê de Monteiro Lobato. Publicado em 1921, o personagem juntou em um só corpo o resultado de Mitologia Brasílica – Inquérito sobre o Sacy-Pererê, estudo de mais de 300 páginas que reuniu inúmeros depoimentos sobre o “duende negrinho”, assim chamado por Luís da Câmara Cascudo. Essa data vem a tempo para comemorar a 400ª crônica da então coluna Terra Brasilis do Jornal Circuito Mato Grosso, iniciada na semana de 24 a 30.05.2012.
Para comemorar ambas as datas, convidei Jacutinga, indigenista que se fez presente na Terra Brasilis em duas temporadas, com trinta episódios. Isso porque na infância teve experimentações inesquecíveis com redemoinhos, imagens que aprendeu a associar à figura do Saci de Monteiro, após a leitura do livro, uma espécie de manual de caça ao Saci.
Jacutinga e seu irmão André Luiz, na Serra da Mantiqueira, em férias no sítio dos avós José e Almerinda, saiam em expedição, munidos de peneira cruzada e garrafa com rolha de cortiça. Em dias quentes, passavam horas a fio a esperar redemoinhos para capturar o temido Saci. Rajadas de ventos os colocavam em alerta: areia e folhagem em espiral. E, assim que o vento esculpia o fenômeno tão misterioso, as entusiasmadas crianças se atiravam com a peneira cruzada no redemoinho. Depois, levavam a boca da garrafa para debaixo da peneira, vedando-a com a rolha, acreditando terem capturado o ser sobrenatural. Com o vento aprisionado na garrafa, aguardavam o aparecimento do Saci.
Os irmãos nunca viram o Saci.
Anos se passaram…
Morando entre os indígenas da etnia Nambiquara, Jacutinga teve uma experimentação inesquecível com um redemoinho. Na aldeia, sentado no chão em conversa com o poderoso pajé Rondon, um vento em espiral avançou até o pátio. Rondon, depois de gritar, expulsou o redemoinho ao arquear seu arco e apontar a flecha em sua direção. Jacutinga viu o redemoinho dar meia volta, sem que a flecha fosse atirada por Rondon.
Jacutinga viu o Saci fugir do pajé. Lembrou do irmão André.