Por Assessoria
Indigenistas, ativistas e organizações que lutam pelos direitos indígenas seguem criticando a inércia do governo diante do risco de genocídio dos indígenas isolados Kawahiva, em uma das regiões mais violentas do Brasil.
A existência dos indígenas isolados Kawahiva foi oficialmente confirmada há 25 anos. Nesta semana, completa-se oito anos desde que o Ministério da Justiça, em 20 de abril de 2016, publicou a Portaria Declaratória confirmando o território como a Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo, na Amazônia mato-grossense.
No entanto, o processo de demarcação ainda não foi finalizado, com órgãos do governo atrasando o processo de demarcação por conta de pressões externas de madeireiros, fazendeiros e políticos da região.
A Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo fica no município de Colniza (MT), uma das regiões mais violentas do Brasil. Estima-se que 90% da renda de Colniza se origina da exploração ilegal de madeira.
Durante décadas, muitos indígenas Kawahiva foram mortos por madeireiros e fazendeiros, e outros morreram em decorrência de doenças trazidas pelos invasores. Aqueles que sobreviveram a esses ataques são os últimos Kawahiva.
Em agosto de 2022, o Supremo Tribunal Federal deu à FUNAI um prazo de 60 dias para estabelecer um cronograma definitivo para a completa demarcação do território, mas até hoje a Terra Indígena não foi demarcada – mesmo com a pressão de especialistas e da sociedade civil.
Jair Candor, respeitado indigenista e coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Madeirinha-Juruena (MT) da FUNAI, disse: “A única maneira de garantir o seu futuro é fazer a demarcação da terra e colocar uma equipe permanente de fiscalização. Se não, será mais um grupo que vai ficar só na história, como tantos outros aqui na região.”
Eliane Xunakalo, presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), disse: “É extremamente importante a retomada da demarcação do território dos nossos parentes isolados. Kawahiva do Rio Pardo é um território cobiçado pelos não indígenas, extremamente violento para os servidores da FUNAI que trabalham na frente de proteção. Nós só vamos ter a garantia de existência dos nossos parentes isolados se o território for demarcado.”
A diretora da Survival International, Caroline Pearce, disse hoje: “Já faz mais de um ano que o presidente Lula tomou posse, e o processo de demarcação do território dos Kawahiva continua parado – apesar desses indígenas viverem em uma das regiões mais violentas do país. O presidente Lula e sua equipe estão cientes de que os Kawahiva não irão sobreviver se seu território não for demarcado. Sabemos que inúmeros Kawahiva foram mortos em massacres que ocorreram no passado e, agora, os invasores estão os cercando, destruindo a floresta ao redor da Terra Indígena em um ritmo assustador.”
“O compromisso do presidente Lula com os direitos dos povos indígenas é bem-vindo mas resultará em poucos avanços concretos se indígenas isolados, como os Kawahiva, um dos povos mais vulneráveis do planeta, são deixados a mercê de madeireiros e fazendeiros armados, que não escondem seu desejo de tomar posse do território dos Kawahiva.”
No início do mês, a Survival divulgou um novo vídeo pressionando por #DemarcaKawahiva junto das organizações indígenas Fepoimt e COIAB e as organizações aliadas OPAN e Opi.
Fotos: Reprodução/FUNAI