Embora tenha grau de escolaridade similar ao dos homens, grande parte das mulheres brasileiras está fora do mercado de trabalho. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que 61% das mulheres estão inseridas no mercado de trabalho. Entre os homens, o número sobe para 84%. "Essa diferença mostra que o Brasil não aproveita completamente os benefícios de ter igualado a educação entre homens e mulheres", diz a CNI na Nota Econômica, que analisa informações da pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Rotatividade no Mercado de Trabalho.
De acordo com a nota, os motivos apontados para deixar o emprego reforçam as diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Quase um quarto (23%) das mulheres deixou o último emprego para tomar conta dos filhos ou de parentes. Essa foi a segunda razão para as mulheres pedirem demissão, atrás apenas do salário baixo, causa apontada por 24% das entrevistadas. Em terceiro lugar, 19% das mulheres disseram que receberam uma oferta de trabalho melhor e 14% alegaram a falta de tempo para ficar com a família.
Entre os homens, 32% disseram que deixaram o último emprego por causa do salário baixo. Em segundo lugar, citado por 27% dos entrevistados, apareceu a oferta de trabalho melhor. O terceiro motivo, citado por 16%, foi o contrato de trabalho por tempo determinado e, em quinto, mencionado por 15%, foram os benefícios baixos ou ruins.
Na avaliação da CNI, as diferenças resultam do fato de que as mulheres são responsáveis pelas tarefas domésticas e os cuidados com crianças e idosos. Também contribui para isso a falta de vagas na educação infantil. Atualmente, 7,5 milhões de crianças de zero a três anos não encontram vagas em creches. "Seriam necessárias 8 milhões de vagas além das existentes para acomodar todas as crianças de zero a cinco anos", diz a Nota Econômica.
Conforme o estudo, quanto menor a renda familiar, maior é o percentual de mulheres que citaram a necessidade de cuidar de filhos e parentes entre os três principais motivos de ter deixado o último emprego. "Isso é um indício de que as mulheres que mais deixam o mercado de trabalho para cuidados com familiares são as mulheres de baixa renda, que não possuem condições financeiras para arcar com uma estrutura de cuidado doméstico e, portanto, assumem elas mesmas esse trabalho."
TRABALHO DOMÉSTICO – Outra diferença importante é o tempo dedicado por mulheres e homens ao trabalho doméstico. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em geral, as mulheres gastam, em média, 24 horas e 8 minutos por semana com trabalhos domésticos, mais do que o dobro das 10 horas e 32 minutos que os homens se dedicam a essas tarefas. Se consideradas apenas as pessoas que trabalham fora de casa, a proporção continua a mesma: as mulheres gastam, em média, 20 horas e 32 minutos por semana com tarefas domésticas. Entre os homens o tempo dedicado a esse trabalho é de 9 horas e 56 minutos.
A CNI destaca que a inserção das mulheres no mercado de trabalho beneficiará a indústria e o Brasil. Isso porque o aumento da oferta de mão de obra amplia a produção e a produtividade. "Para tanto, é necessário mudar a cultura vigente com relação à divisão do trabalho doméstico e priorizar a criação de vagas para educação pública infantil, em horário integral, que permita às mulheres, principalmente às de baixa renda, conciliar a maternidade com o trabalho", recomenda.
Veja outros dados da Nota Econômica:
59% das mulheres que não trabalham se classificam como donas de casa e apenas 20% dizem que estão desempregadas. Entre os homens que não trabalham 47% se dizem desempregados.
29% das mulheres são empregadas formais do setor privado. Esse número sobe para 36% entre os homens
15% das mulheres atuam em empregos públicos. Entre os homens esse percentual é de 8%
7% das mulheres trabalham em serviço doméstico sem carteira assinada. Para os homens, o percentual é 0%.