Onze dias. Esse é o tempo aproximado que leva para uma mulher ser morta por motivo passional em Mato Grosso, segundo um levantamento da Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal (CEAC), divulgado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT).
O estudo aponta que das 59 pessoas do sexo feminino assassinadas de janeiro a agosto deste ano, ao menos 22 foram mortas por esposos, namorados ou ex-companheiros. E o número pode aumentar, já que nem todos tiveram suas investigações concluídas.
No período, pelo menos dois casos deixaram a sociedade mato-grossense consternada com a frieza e brutalidade empregada nos crimes;
Julho – Thais Mara dos Santos Gomes, 23 anos, foi encontrada morta por um vizinho na sua residência, em Primavera do Leste (242 km de Cuiabá-MT), com diversos golpes de faca pelo corpo. A filha da vítima, de apenas quatro meses à época, estava ao lado da mãe, chorando e com fome, mas sem nenhum ferimento.
Três pessoas foram presas pela Polícia Civil por suspeita de envolvimento no crime. Os sogros de Thais, identificados como Marta Moraes Alves e Daniel Cirilo, foram detidos no dia seguinte ao assassinato. Os investigadores tiveram acesso às imagens de uma câmera de segurança colocada nas imediações da casa da jovem. Nas filmagens, foi constatado que Daniel saiu do imóvel da vítima por volta de 4h.
Thais, em conversas com vizinhos, dizia sentir medo após ser ameaçada de morte pela sogra. “Ela falou que estava com medo de ficar em casa sozinha, pois ela estava sendo ameaçada pela sogra, que dizia que a bebê não era filha do marido dela. A sogra disse que ia pagar alguém para matar ela”, disse uma amiga.
No dia 5 de setembro, a polícia prendeu o marido da jovem, Rafael Moraes Dias, 29 anos, após exames periciais comprovarem que havia material genético do suspeito nas unhas da vítima e na faca utilizada no crime. O crime segue sendo investigado.
Setembro. A empresária Maria Lúcia Lustosa Sabino, 54 anos, foi encontrada morta dentro da própria casa, localizada no bairro Jardim Aeroporto, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá-MT. O sobrinho de Maria, que trabalhava com a vítima, ficou preocupado ao não conseguir contato e foi até a residência da tia. Lá, encontrou a tia estirada na cama, já sem vida.
O assassinato é o namorado da vítima, identificado como Valdir Gomes de Lima, de 45 anos. Ele fugiu logo após o crime e confessou o assassinato a um colega de trabalho. Valdir ainda teria revelado que se suicidaria. No entanto, ele se entregou à polícia três dias depois confessou que estrangulou a namorada após uma discussão.
Segundo a socióloga Vera Bertoline, os casos de assassinatos motivados por razões passionais é fruto do machismo enraizado na sociedade. “A cultura machista influencia nesse sentimento de posse e dominação de determinados homens com as mulheres, que são impedidas de romper um relacionamento abusivo por medo do que pode acontecer”.
Vera criticou ainda criticou o poder público e cobrou penas mais rígidas para os agressores e assassinos. “Parte da mudança deste panorama passa por uma mudança de postura do Poder Judiciário, que julga poucos casos de feminicídio anualmente. Além disso, as penas aplicadas aos criminosos e as medidas protetivas dadas às vítimas passam uma falsa sensação de segurança, pois os suspeitos costumam reincidir e praticar novos crimes. Esses fatores contribuem para que os registros se repitam”.
Mais números
Conforme o relatório divulgado, 15% dos assassinatos de mulheres são motivados por envolvimento com drogas, 10% por rixa, 4% por vingança, 3% por ambição, 2% por álcool e 2% por pedofilia.
Já em relação ao meio empregado, em 34% dos casos foi utilizada arma de fogo, em 31% arma cortante ou perfurante, em 17% foram empregados outros meios, 8% dos autores utilizaram força muscular, outros 8% arma contundente e 2% veneno.
Conscientização
Para a socióloga Vera Bertoline, o investimento em educação é a melhor solução para coibir qualquer tipo de prática que coloque em risco a integridade física das mulheres. “As pessoas devem ser educadas desde cedo para que possam compreender o que é um relacionamento abusivo. Essa conscientização fará com essa triste realidade seja alterada”.