Opinião

2021: O Adeus da Sacizada

Ikuiapá na boca do Pari, livro editado pela Entrelinhas em 2020, contou com muitas mãos. Pessoas que se dedicaram a esculpir sua forma: texto, ilustrações, mapa e o trabalho da equipe da editora. Começou a ser desenhado em uma manhã de 2016. À mesa de café.

Rosemar Coenga, o convidado, adocicou à ceia matinal reminiscências de sua infância transcorrida na boca do rio Pari. Desse dia em diante, aprofundamos nossos estudos nos seres encantados que povoam mentes, águas, montanhas e matas deste Mato Grosso. Adentramos nos estudos de Dunga Rodrigues, Olívio Jekupé, Ivan Belém, Mario Cesar Silva Leite, Silvio Romero, Luís da Câmara Cascudo, Martha Johanna Haug, Emílio Antunes, Francisco Alexandre Ferreira Mendes, Ricardo Azevedo, Menotti del Picchia, Florestan Fernandes, Arthur Ramos, Alceu Maynard Araujo, Ziraldo, Renato da Silva Queiroz, Theobaldo Miranda Santos, Maria Camargo, João Firmino de Abreu Filho, Monteiro Lobato e tantos mais…

Em falar em Monteiro Lobato, pensei no escritor de Taubaté para me dar uma mãozinha para encerrar este ano com boas palavras. E A contagem dos Sacis foi a obra selecionada. O livro, publicado simultaneamente no Brasil e na Argentina, narra o início da inesperada amizade de Pedrinho e Saci-Pererê e se estende por uma aventura imperdível que coloca todos os Sacis em um único espaço. Esta façanha não foi tão difícil para o cara do Sítio, que esteve nesta cidade para conhecer as areias mágicas do rio Cuiabá.

Monteiro Lobato, que era entranhado com o Saci por conta de seu inquérito de 1917, convocou uma festa. Na verdade, a festa foi uma isca, um pretexto, um chamariz para que todos estivessem presentes. Lobato pretendeu fazer uma contagem, uma espécie de censo demográfico de Sacis, possivelmente o ser encantado mais famoso deste país. O resultado da apuração foi um sucesso! Apareceu Saci de tudo que é canto! Cada qual com sua pessoalidade, indumentária, trejeito, de cachimbo, sem cachimbo, de gorro, sem gorro. Até Sacis de duas pernas estiveram presentes! Todos juntos, comemoraram o encontro, até então nunca ocorrido. Coisas de Lobato…

Na festa, os Sacis, que não se conheciam, pois cada um é senhor de seu próprio lugar, conviveram em meio ao diverso, à dessemelhança, à multiplicidade polifônica – de falas e gargalhadas. Trocaram experiências. Fortificaram e ampliaram suas funcionalidades.

Inspirada no júbilo da grande festa dos Sacis, em louvou à diversidade, clamo a sacizada ajuntada por Lobato, a mesma de 1947, para fazer a festa de despedida de final de ano. Ano sofrido! Sofrido! Sofrido! Meu desejo é proporcionar uma despedida de 2021 e desejar efusivos votos de um feliz 2022. Entrar no clima da sacizada que existe em diversas partes deste mundão que é o Brasil. É se juntar à algazarra dessa molecada. É fazer barulho com a multiplicidade de vozes de tantos Sacis que andam por aí. É a de aprender com os Sacis. É a de dar chance ao inesperado!

Feliz 2022!!!

Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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