Há datas que não apenas marcam o calendário: elas ecoam no coração humano.
O dia 18 de outubro, consagrado ao médico, é uma dessas datas que transcendem o tempo e se tornam símbolo da gratidão humana. Celebra-se nesse dia a memória de São Lucas, o evangelista que também foi médico, pintor e historiador. Segundo a tradição cristã, ele não apenas registrou com sensibilidade os passos de Cristo, mas também se dedicou a cuidar dos enfermos, tornando-se o padroeiro daqueles que escolheram a medicina como caminho de amor e serviço.
A homenagem, nascida séculos atrás, perpetua a essência dessa profissão que une ciência e compaixão, técnica e ternura.
Desde a Antiguidade, o ato de curar foi cercado de mistério e reverência. Nos templos de Asclépio, na Grécia, os enfermos buscavam o milagre da saúde. Depois, Hipócrates transformou o cuidar em arte e ciência, fundando um legado que atravessa os séculos: o da ética e da razão a serviço da vida. Assim, o médico tornou-se guardião da esperança humana, aquele que se inclina sobre a dor alheia e, mesmo diante do sofrimento, acredita que há sempre uma chance de recomeço.
Celebrar o Dia do Médico é reconhecer que, por trás dos diagnósticos e das técnicas, existe um dom que não se ensina: o dom de cuidar. É um gesto de gratidão a cada profissional que renuncia ao repouso para amparar um desconhecido, que transforma o plantão em altar e o cansaço em força. Comemorar essa data é um ato de reverência à vocação que se sustenta na fé na ciência e no amor à humanidade.
No mundo de hoje, os médicos enfrentam desafios imensos. Vivem entre jornadas exaustivas, pressões constantes, carências de estrutura e, muitas vezes, a ingratidão de um sistema que exige muito e reconhece pouco. A recente pandemia revelou, com dureza e brilho, a grandeza desses homens e mulheres que enfrentaram o medo para proteger vidas.
A medicina evolui, a tecnologia avança, mas nada substitui o toque humano, o olhar que acolhe, a palavra que conforta, o gesto que acalma.
Ser médico é escolher servir à vida. É compreender que cada batimento recuperado, cada respiração restituída, é uma vitória sobre o silêncio da morte. A verdadeira vocação nasce quando o conhecimento se alia à empatia, quando a razão se dobra diante da compaixão. O médico é aquele que enxerga no corpo o templo da vida e na alma o mapa do cuidado. É aquele que, mesmo diante da dor, encontra poesia.
E a população precisa deles: dos médicos vocacionados, que não veem o paciente como número, mas como história. Porque há dores que pedem escuta e feridas que só o afeto pode cicatrizar.
Um médico que se dedica de corpo e alma cura mais que doenças: cura o desespero, restaura a esperança e devolve ao ser humano o direito de continuar sonhando. Num tempo em que tudo parece rápido e impessoal, o médico é o abrigo humano onde a ciência encontra o amor.
Que o Dia do Médico seja, portanto, mais do que uma comemoração. Que seja um convite à reflexão e à gratidão. Um lembrete de que ainda há, entre nós, profissionais que transformam o conhecimento em cuidado e o trabalho em vocação.
Nesta data, presto minha homenagem e o meu sincero agradecimento a todos os médicos que cercam e cercaram a minha vida, na pessoa de um grande médico que viveu em Cuiabá, Dr. Nadim Amui Júnior, médico extremamente humano, que sempre dizia que o médico não pode nunca desistir do paciente, que deve estudar e se dedicar, independente de qualquer coisa. Que o exemplo dele inspire gerações a manter viva a nobreza e a beleza dessa profissão que, mais do que qualquer outra, traduz o milagre da vida em gestos humanos.
Parabéns aos médicos.
Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial. @aeternalente