Mil e duzentas pessoas voluntárias serão selecionadas em Cuiabá para fazer o teste da vacina contra a dengue a partir desta semana. O projeto com participação das secretarias de Saúde de Cuiabá e do Estado, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e do Instituo Butantan foi lançado na manhã desta sexta-feira (7) no Centro de Avaliação e Pesquisa de Vacina Contra a Dengue, no bairro Alvorada, onde se concentrará os trabalhos do grupo. O lançamento teve participação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Segundo o pesquisador que encabeça os testes em Cuiabá, o médico infectologista Cor Jésus Fontes, os testes começarão por moradores do Alvorada e em caso de necessidade de chamamento de mais pessoas para alcançar a meta, os chamamentos se estenderão para os bairros da região.
“Queremos frisar que uma equipe de agentes de saúde vai à casa das pessoas para fazer a pesquisa e saber se ela encaixa no perfil que procuramos para realizar o teste. Se pessoa quiser vir até o centro para se voluntariar, será bem recebido, não é necessário que venham”, explicou.
Podem participar do estudo pessoas que estejam saudáveis que já tiveram ou não a doença anteriormente e que se encaixam em alguma das três faixas etárias definidas para aplicação do teste – de 2 a 6 anos, de 7 a 17 anos e de 18 a 59 anos. As mulheres voluntárias não podem o estar grávidas e em engravidar pelo período de cinco anos de acompanhamento dos pesquisadores de desenvolvimento da vacina. Terão preferência pessoas com previsão de continuar a morar em Cuiabá por um período de cinco após tomar a dose.
“Isso é para o controle de efeitos colaterais e eficácia da vacina em região do País, visto que Cuiabá faz parte de um grupo treze cidades, com 17 mil voluntários que serão selecionados no Brasil”, comentou o infectologista.
Dos quatro tipos da doença (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) passaram pelo teste da vacina em Cuiabá. A dengue tipo 4, que não era registrada no Brasil desde1982 e voltaram a ser identificados casos em 2010, apresenta risco a pessoas já contaminadas com os vírus 1, 2 ou 3, que são vulneráveis à manifestação alternativa da doença. Complicações podem levar pessoas infectadas ao desenvolvimento de dengue hemorrágica.
O teste
Os ensaios clínicos serão administrados pelo Hospital Júlio Müller, sob a responsabilidade do infectologista Cor Jésus Fontes. Os participantes receberão dose única e serão acompanhados pela equipe médica do Centro de Avaliação e Pesquisa de Vacina Contra a Dengue por um período de cinco anos para a verificação da eficácia da proteção oferecida pela vacina.
A vacina foi desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, da sigla em inglês). Ela foi produzida com vírus vivos geneticamente enfraquecidos para provocar a resistência contra a contaminação.
“Com o vírus, a resposta imunológica tende a ser mais forte, mas, como estão enfraquecidos, eles não têm potencial para provocar a doença. A vacina deve proteger contra os quatro sorotipos da dengue com dose única”, explica o diretor do Butantan, Jorge Kalil.
Do total de voluntários, dois terços receberão a dose da vacina e um terço receberá placebo (substância análoga ao da vacina, mas sem o agente imunizador). Segundo Kalil, nem médicos e nem os participantes saberão qual a mistura que em cada paciente. Esse tipo de teste servirá para averiguar, a partir dos exames coletados, aqueles que receberam a vacina ficaram protegidos e se quem tomou o placebo adquiriu a doença.
Conforme o médico infectologista, Cor Jésus Fontes, análises apontam eficácia acima de 90% das vacinas onde já foram aplicados testes.
Além de Cuiabá, a ensaios de aplicação em Manaus (AM), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), São Paulo (SP), em três centros – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e Santa Casa de Misericórdia de São Paulo-, Fortaleza (CE), Aracaju (SE), Porto Alegre (RS) e Campo Grande (MS).
Dengue em Mato Grosso
Conforme boletim da Vigilância Epidemiológica de Mato Grosso, até a última semana de setembro, a incidência da dengue estava em 806 casos a cada grupo de 100 mil habitantes. O número de notificações era de 26.326, aumento de 11% relação ao mesmo período de 2015 (janeiro a setembro).
Reportagem publicada na edição 603 do Circuito Mato Grosso aponta relatório divulgado pela Controladoria Geral da União sobre a gestão de dinheiro destinado pelo governo federal para combate e prevenção de doenças tropicais.
A equipe da CGU monitorou a movimentação da conta financeira do fundo entre janeiro de 2015 e fevereiro deste ano. Nesse intervalo, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) recebeu o repasse de R$ 25.218.745 transferidos pelo Fundo Nacional de Saúde e outros fundos de incentivo para ações de serviços de vigilância em saúde.