O transtorno explosivo intermitente, também conhecido por síndrome do pavio curto, é um problema que começa a surgir no final da adolescência e início da vida adulta. Sabe aquela pessoa que, do nada, tem um acesso de fúria, grita ou agride alguém, e o estopim foi apenas um pisão no pé sem intenção? Ela tem grandes chances de sofrer da síndrome do pavio curto. A maior característica do problema é ficar extremamente irritado por motivos bobos.
1 – Ter ataques de fúria mais de duas vezes por semana.
2 – Reação desproporcional ao evento estressor. A razão sempre é fútil
3 – Ter surgido no final da adolescência e começo da vida adulta.
4 – Ataques de raiva não se justificam por uso de álcool e substâncias ou outros transtornos
5 – Ataques podem vir acompanhados de sudorese, formigamento, tremores ou taquicardia.
6 – Ter casos na família de ataques de fúria.
7 – Se arrepender logo que a raiva passar: ter consciência que feriu alguém de alguma forma.
8 – Destruir objetos, independente do valor agregado a ele.
9 – Agredir alguém e até mesmo incendiar algum lugar durante o ataque de raiva.
10 – Impulsividade incontrolável: o ataque de raiva nunca é premeditado.
Esse transtorno, no entanto, acaba comprometendo a vida social, financeira, profissional e jurídica da pessoa. Quem tem uma explosão no trabalho pode ser demitido, ter problemas com a lei – e até mesmo ser preso, no caso de ter agredido alguém na rua, por exemplo. Separações e perda de amigos também são comuns já que ninguém sabe quando e qual será a razão fútil para o próximo ataque de fúria.
A psiquiatra Daniela Gava e o psicólogo Marcelo Gianini, do Hospital São Cristóvão, em São Paulo, explicam que, normalmente, quem sofre da síndrome acaba se arrependendo depois de uma explosão. Além disso, a pessoa percebe claramente que feriu alguém de alguma forma.
Mesmo assim, nem sempre essa reflexão sobre as situações incontroláveis levam o doente a buscar ajuda. Para controlar o problema, é preciso ter acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
Para os ataques nervosos serem considerados síndrome do pavio curto eles precisam acontecer no mínimo duas vezes na semana e as razões devem ser fúteis. É normal uma pessoa ficar nervosa por algo sério, mas, se por motivos bobos há um descontrole, é necessário visitar um psiquiatra.
Como, afinal, surge a síndrome do pavio curto? Primeiramente há uma causa neurobiológica, que acontece por uma desregulação dos neurotransmissores. Histórico familiar também leva a uma maior propensão a desenvolver o problema. Juntando isso com fatores ambientais do dia a dia, como transporte público diariamente lotado, tecnologia que aumenta cobranças – é necessário estar disponível 24h por dia – e com traumas, como perdas, separações, acidentes, há um conjunto perfeito para o transtorno explosivo intermitente.
Tímidos
Os “reclamões de plantão” acabam sofrendo menos do problema. Os mais afetados são os tímidos, que guardam tudo para si e são passivos.
“Tolerar não significa aceitar. O tímido está fingindo que está tudo bem, mas, no fundo, está sendo agredido. Em algum momento, ele vai estourar”, explica Daniela. “Passividade em excesso não é uma situação que traz bem-estar”, ressalta a psiquiatra.
Outro fator que leva a uma sobrecarga do problema é achar que se muita gente tolera uma situação, é preciso tolerar também. “Não é assim que funciona, são lineares individuais”, explica Daniela.
Para controlar a fúria, é preciso adequar a vida a estratégias, explica o psicólogo Marcelo Gianini, fazendo referência a situações estressoras do dia a dia que não é possível contornar. Como fugir do trânsito do horário de pico? As chances de que isso seja possível são mínimas, então ele defende que é preciso entender que a situação faz parte da vida e que nada vai mudá-la.
Tratamento
A psicoterapia cognitivo-comportamental ajuda a entender porque uma pessoa tem um comportamento explosivo e incontrolável nesses momentos. “Entender por que há esse comportamento ajuda a trabalhar racionalmente. Depois disso, é possível desenvolver outros caminhos e ações para evitar o problema”, conta Gianini.
Em muitos casos, é preciso associar uma medicação junto com a psicoterapia. No entanto, há muito preconceito com os antidepressivos, medicamentos de escolha para essas ocasiões.
“Antidepressivo não deveria levar esse nome porque serve para muitas outras coisas. Ele mexe nos neurotransmissores e diminui a atenção para eventos externos que dão raiva”, explica a psiquiatra.
“Muitos pacientes que resistiam à medicação e passam a fazer uso dela chegam no consultório dizendo: ‘por que demorei tanto tempo para aceitar tomar o remédio?’”, pontua Daniela.
Fonte: G1