Um ano após a morte de Bernardo Boldrini, de 11 anos, ainda não há data para início do julgamento em Três Passos, cidade gaúcha onde o menino vivia com o pai e a madrasta. A previsão é que isso ocorra até o final de 2015, mas as audiências para ouvir testemunhas do processo ainda não terminaram. Quatro réus seguem presos por envolvimento no crime: o médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, e o irmão Evandro Wirganovicz. O crime completa um ano neste sábado (4).
Bernardo desapareceu no dia 4 de abril de 2014, data em que foi morto. Seu corpo só foi encontrado no dia 14 de abril. Segundo as investigações da Polícia Civil, o menino morreu em razão de uma superdosagem do sedativo midazolan e foi enterrado em uma cova, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.
Até agora, o processo conta com 32 volumes e um total de 6,6 mil páginas. Considerando as testemunhas de acusação e defesa, 52 pessoas foram ouvidas em 17 audiências de instrução. Ainda falta uma testemunha de defesa a ser ouvida em Roraima, no dia 11 de maio. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), que divulgou um balanço sobre o caso, o juiz Marcos Agostini pediu no dia 24 de março urgência na realização da precatória da Comarca de Boa Vista, de Roraima.
Encerrada esta fase, o próximo passo é marcar a data para interrogar os quatro réus (veja mais abaixo a acusação de cada um). Em seguida, as defesas apresentam seus argumentos. Ao final, o juiz terá quatro opções: sentença de pronúncia (os réus vão ser julgados em júri popular), sentença de impronúncia (o magistrado considera que não há prova da existência do fato ou indícios de autoria e o processo é arquivado), absolvição sumária (réus inocentados) e desclassificação (em discordância do juiz com a acusação, o caso acaba sendo julgado em vara criminal).
A promotora Silvia Jappe, responsável pelo caso, acredita que os réus serão ouvidos ainda no primeiro semestre deste ano. "É o que esperamos. Depois se abre prazo para defesa e o juiz decide. Se não houver recurso posterior, é possível que haja julgamento ainda neste ano. Se houver, fica mais difícil estimar um prazo", afirmou ao G1.
“Desde o inicio da instrução a atuação dos advogados foi nesse sentido de atrasar o andamento do processo. Foram muitas testemunhas arroladas e houve desistências”, disse a promotora, sobre a demora na última testemunha a ser ouvida.
Para o delegado Marion Volino, que participou da investigação, o trabalho da polícia foi encerrado e cumpriu seu papel. "Agora é aguardar o encerramento da fase de instrução e aguardar o júri", concluiu. "Foi um caso muito difícil, uma carga emocional muito forte. A cobrança, da mesma forma. Exigiu muito de todos nós", lembrou.
O G1 entrou em contato com as defesas dos quatro réus. Rodrigo Grecellé Vares, um dos advogados de Leandro Boldrini, disse que não está concedendo entrevistas sobre o andamento do processo e que aguarda resposta do IGP sobre a perícia feita na receita usada para comprar o medicamento midazolam. Vanderlei Pompeo de Mattos, que defende Graciele Ugulini, não quis comentar o caso. Os advogados de Edelvânia e Evandro não atenderam aos telefonemas.
Relembre o caso
– Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
– Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.
– O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.
– Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.
– Nesta terça-feira (31), um vídeo foi divulgado pela defesa de Edelvânia, em que ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro Wirganovicz, é inocente. A defesa de Graciele não quis comentar a nova versão.
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CASO
Como Bernardo morreu?
A Polícia Civil aponta que Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.
Com quem Bernardo morava?
Ele vivia com o pai, a madrasta e a bebê do casal, à época com cerca de um ano, em uma casa em Três Passos. A mãe de Bernardo, Odilaine, morreu em fevereiro de 2010. Recentemente, o Ministério Público solicitou novos documentos sobre o caso de Odilaine. Em até 30 dias, o MP deve se manifestar a favor ou contra a abertura das investigações. O inquérito policial concluiu que ela se matou, mas uma perícia particular contratada pela família aponta a hipótese de homicídio.
Quem está preso?
O médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela Edelvânia Wirganovicz e o irmão Evandro Wirganovicz.
Quando ocorre o julgamento?
Ainda não há data marcada. Conforme o Tribunal de Justiça (TJ-RS), os quatro réus devem ser interrogados ainda no primeiro semestre deste ano. Depois disso, as defesas apresentam seus argumentos. A expectativa é que o julgamento aconteça até o fim de 2015.
Os réus respondem por quais crimes?
Leandro Boldrini vai responder por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Graciele e Edelvânia responderão por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio simples e ocultação de cadáver.
Como o corpo foi encontrado?
Na noite do dia 14 de abril, o corpo do menino foi encontrado enterrado em uma cova em um matagal na cidade de Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de onde o menino morava. Edelvania mostrou aos policiais onde o corpo da criança estava enterrado.
Como era a relação de Bernardo com o pai?
No ano passado, vídeos gravados pelo próprio pai mostram discussões do menino com o casal. Em um deles, a criança está com uma faca na mão e é instigada por Leandro. "Vamos lá, machão", diz o médico. Há também relatos de vizinhos e amigos dão conta que o menino se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para relatar o caso.
No início de 2014, o juiz Fernando Vieira dos Santos, 34 anos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.
De acordo com o MP, desde novembro de 2013, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, jamais houve indícios de agressões físicas. Em janeiro, o garoto foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.
O médico pediu uma segunda chance. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na Região Central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.
O que ocorreu com a mãe de Bernardo?
Odilaine Uglione foi encontrada morta em 2010, dentro da clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, em Três Passos. À época, a investigação da polícia concluiu que ela cometeu suicídio com um revólver. No último domingo (29), o Fantástico mostrou o resultado de uma perícia particular contratada pela família, que conclui que a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa.
Fonte: G1