O 4° Batalhão da Polícia Militar em Feliz Natal (510 km de Cuiabá) protocolou em maio, junto ao Ministério Público Estadual (MPE), um documento que reúne – em gravações de áudio e vídeo – indícios de que o vereador do município, Ademir Alves de Oliveira, o Pipoca (MDB), estaria envolvido em um esquema de desmatamento ilegal de terras dirigido pelo Comando Vermelho.
A área em questão está localizada nos fundos do assentamento rural Ena. Segundo a Polícia, o parlamentar estaria utilizando seu cargo para impedir as investigações e até coagir militares. Entre as iniciativas nesse sentido, Ademir Alves teria viajado até Cuiabá para pedir a transferência de policiais que atuam na investigação e até a troca de todo o comando da PM no município.
De acordo com o documento protocolado no MPE, os pedidos teriam sido prontamente negados pelo secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Bustamante.
Uma nova operação policial ocorreu dias depois da suposta investida do parlamentar. A ação gerou uma grande gama de apreensões e prisões em Feliz Natal.
De acordo com a denúncia, o vereador teria usado seu cargo para desqualificar os policiais, dizendo que a operação teria sido frustrada. Em discurso na tribuna da Câmara, Ademir Alves teria chegado a acusar os militares de “criar flagrantes contra trabalhadores”.
No documento protocolado no MPE, a Polícia Militar sustenta que as pessoas que o vereador chama de “trabalhadores” são três suspeitos de espancar e torturar um idoso, além de serem acusados de tráfico de drogas.
Eles teriam sido presos em flagrante com 23 tabletes de substâncias análogas à maconha, duas balanças de precisão, 250 gramas de pasta base de cocaína e 20 munições intactas de calibre 38.
Em outro trecho da denúncia, a PM aponta o que seria a estrutura criminal da suposta organização criminosa investigada. Ela teria um núcleo de controle financeiro e político do crime; operadores do crime ambiental; operadores do crime de tráfico de drogas, de armas de fogo, roubos, execução de pessoas, e um grupo para a segurança armada das terras desmatadas, além dos operadores braçais.
Presidente da Câmara de Feliz Natal, o vereador José Nilton Moretto (PSDB) disse que, em determinadas ocasiões chegou a pedir mais ponderação ao vereador Ademir Alves em seus discursos.
“Ele falou isso tudo na tribuna e chegou, infelizmente, a defender bandido. Agora, no próximo dia 24, vou ler toda a denúncia que chegou a nós e propor a abertura de uma CPI para investigarmos a má conduta do Pipoca. Se for o caso, chegaremos até em uma cassação”, disse Moretto.
Outro lado
O vereador Ademir Alves de Oliveira disse que as acusações contra ele fazem parte de um movimento político e que suas reivindicações estão sendo deturpadas. O parlamentar negou ter feito apologia ao crime organizado e ou solicitado a mudança do comando da PM na cidade.
“Eu defendi, sim, pessoas no púlpito, mas não membros do Comando Vermelho. Eu defendi pessoas que cometeram ‘crimes ambientais’ por ignorância ou falta de informação. Eles que estão misturando os crimes. Eu fui até Cuiabá, sim, pedir aumento de policiamento, porque nossa cidade estava envolta em crimes, mas não a mudança de comando”, garantiu.
“Chegou um momento em que as pessoas eram roubadas e nem iam à polícia, iam direto ao chefe do Comando Vermelho, pedir os pertences de volta. E a polícia preocupada com outras coisas”, completou.